Promoção da Sociedade de Informação e do Conhecimento

2009/10/16

Tecnologias de Informação e Comunicação – Motores de Mudança


Artigo de opinião publicado no diário ‘As Beiras’em 16 de Outubro de 2009

Apesar do desenvolvimento das primeiras redes de comunicação e das tecnologias que dariam lugar à actual Internet ter começado no início dos anos 1960, a ‘explosão’ da Internet – acompanhada da generalização da utilização de uma série de tecnologias de informação e comunicação (TIC) – só se deu na década de 1990. Até essa altura, a rede global era a rede telefónica, cobrindo todo o planeta e fornecendo um restrito leque de serviços fortemente centrado nos serviços (analógicos) de voz.
Hoje o mundo seria impensável sem a rede Internet e sem a variedade de tecnologias de informação e comunicação que lhe estão associadas, dado que, virtualmente, todos os sectores de actividade se apoiam nelas, directa ou indirectamente.
Qual foi o factor primordial para a drástica mudança que ocorreu nos anos 1990? Há duas respostas para esta questão. Em termos tecnológicos, o factor chave foi o desenvolvimento da WorldWide Web. O factor primordial foi, no entanto – e como sempre – o factor de motivação humana. De repente, um manancial de informação passou a estar disponível a um número crescente de utilizadores de forma extremamente simples e cómoda. O interesse dos utilizadores gerou uma forte procura o que, por sua vez, motivou uma oferta crescente. Por outro lado, as possibilidades em termos de serviços passaram a contemplar um leque variado, que incluía correio electrónico, instantmessaging, envio e partilha de ficheiros, comércio electrónico, entre outros. Mais recentemente, a estes juntaram-se serviços como o serviço de voz ou de televisão.
A mudança potenciada pela Internet, fortemente suportada na procura por parte dos seus utilizadores, foi de tal ordem que a generalidade dos operadores de telecomunicações viu o seu negócio mudar radicalmente no espaço de poucos anos, levando-os a recentrar a sua actividade no fornecimento de serviços de Internet, integralmente apoiados em tecnologias digitais de comunicação.
Com a disponibilização comercial de serviços e tecnologias de Internet, abriram-se as portas a que uma multiplicidade de serviços, até aí prestados de forma presencial, pudessem passar a estar acessíveis on-line a qualquer utilizador, independentemente da sua localização física. Naturalmente que, num cenário destes, um enorme campo se abriu: o da modernização administrativa apoiada nas TIC passando, necessariamente, pela disponibilização de serviços da Administração Pública através da Internet.
É nessa modernização administrativa que a Associação Coimbra Região Digital actualmente aposta, promovendo e apoiando projectos tão variados como o desenvolvimento de portais municipais, o estabelecimento de plataformas para disponibilização de serviços autárquicos on-line aos munícipes, o fornecimento de produtos e serviços informáticos para os associados (municípios, empresas e entidades de interface universidade-empresa) e a disponibilização de uma plataforma tecnológica e aplicacional de suporte à logística municipal.

Fernando P. L. Boavida FernandesProfessor Catedrático da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de CoimbraPresidente do Conselho de Administração da Associação Coimbra Região Digital.
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2009/10/02

Alguns Riscos e Problemas das TIC na Administração Pública

O potencial das tecnologias de informação e comunicação (TIC) na Administração Pública é largamente conhecido e tem vindo a ser explorado no contexto de inúmeras iniciativas de modernização administrativa. Tratando-se de uma área para a qual, numa boa parte dos casos, existe um défice de know-how quer por parte dos utilizadores, quer por parte de pessoal técnico e especialista, quer, ainda, por parte de decisores – ao que não é estranha a novidade e a rápida evolução que a caracterizam – a área das TIC na Administração Pública não é, no entanto, isenta de riscos e de problemas. Porque conhecê-los é o primeiro passo para lidar com eles, no que se segue são referidos alguns dos mais relevantes.
Um dos principais riscos é o da segurança informática. Ao interligar sistemas em rede e ao permitir o acesso de utilizadores através da Internet, existe a possibilidade de que redes, servidores, serviços e informação fiquem expostos a ataques por parte de utilizadores e/ou máquinas remotos. Infelizmente, a área da segurança de sistemas e redes é uma das mais descuradas, quer por desconhecimento quer por incapacidade técnica, o que contribui de forma decisiva para o demasiado elevado número e tipo de vulnerabilidades de máquinas e redes ligadas à Internet. A segurança é uma área que deve ser tida em conta em todas as fases da vida de uma infra-estrutura, a começar pelas fases de planeamento e projecto e não descurando, naturalmente, as fases de operação e manutenção.
Um outro problema comum é o da inadequação de infra-estruturas e equipamentos. Frequentemente, as infra-estruturas de rede estão mal dimensionadas e/ou desactualizadas tecnologicamente, o que causa problemas a todos os níveis. Tal deve-se, amiúde, a um deficiente planeamento e projecto – nos casos em que esse planeamento e projecto existiram. A constituição de qualquer sistema, aplicação ou rede informáticos deve estar sujeita a uma rigorosa análise de requisitos, a que se deve seguir uma especificação detalhada e uma implementação devidamente controlada.
É, também, devido a mau planeamento e especificação que, dentro da mesma entidade ou serviço, seja relativamente comum a existência de diferentes sistemas de informação não integrados, o que leva à ‘fragmentação informática’ da entidade em diferentes domínios entre os quais a informação circula difícil ou ineficazmente. Por vezes, é necessária uma exportação/importação quase manual entre diferentes sistemas de informação, o que leva a fortes limitações e a custos desnecessários.
Por outro lado, é frequente que os orçamentos de serviços/sectores não tenham em conta custos de operação, manutenção, actualização e crescimento das TIC (ao contrário do que acontece com outras áreas). As TIC ainda são encaradas como projectos de excepção, muitas vezes efectuados com recurso a financiamentos conseguidos por candidaturas a programas que, quando acabam, deixam as entidades com custos de manutenção e operação consideráveis, para os quais não têm capacidade financeira.
Por fim, é de referir que a utilização de soluções de código aberto (opensource) é, ainda, bastante rara, ao contrário do que se passa em administrações públicas de outros países Europeus bem mais ricos do que Portugal, como é o caso da França. Os custos de licenciamento de software proprietário representam uma boa parte do investimento em TIC feito na Administração Pública. Se nos lembrarmos que, na esmagadora maioria dos casos, um agente da Administração Pública tem apenas que utilizar programas de ‘office’, um ‘browser’ e um cliente de correio electrónico, facilmente se conclui que uma vasta maioria dos equipamentos poderia recorrer a software ‘opensource’ sem qualquer problema e com enormes poupanças.

Fernando P. L. Boavida Fernandes
Professor Catedrático da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra
Presidente do Conselho de Administração da Associação Coimbra Região Digital
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